A POPULARIDADE DE UM SANTO
S. Jorge é uma personagem paradoxal: é um dos santos que apresenta mais dados inseguros sobre a sua história real e, ao mesmo tempo, um dos mais presentes na
devoção popular e na iconografia.
Relativamente à sua figura histórica, podemos dizer que se trata de um mártir
cristão oriental, que morreu num ano impreciso do século IV, provavelmente em
Lídia (actualmente Lod, Israel), na antiga diáspora dos greco-romanos. O seu nome,
de origem grega, significa «agricultor».
Relativamente à devoção popular, é um facto indiscutível que o culto a S. Jorge
surgiu pouco tempo depois da sua morte, primeiro nas comunidades cristãs do
Oriente e logo após nas do Ocidente. A sua popularidade era tão grande que
recebeu o qualificativo de megalomártir, isto é, «grande mártir», «mártir insigne».
Muito rapidamente se construíram igrejas dedicadas a si, assim como
representações pictóricas que aludem – as mais antigas – à sua condição de mártir
ou então – as mais modernas – à famosa lenda do combate contra o dragão para
libertar a princesa.
A data mais comum para celebrar o aniversário do martírio de S. Jorge é a do 23
de Abril, que é a data que continua vigente no santoral (lista oficial dos santos) e
no calendário litúrgico. Há que dizer que, contrariamente ao que se disse em 1960
quando se levou a cabo uma simplificação do calendário universal, S. Jorge nunca
foi eliminado do santoral, tendo apenas variado a categoria da sua comemoração
litúrgica: actualmente, excepto em alguns lugares em que é venerado como patrono,
S. Jorge é objecto do que se chama uma «memória livre».
A escassez dos dados verdadeiramente históricos referentes a S. Jorge é
amplamente compensada com a exuberância dos elementos lendários de que se viu
rodeado. As lendas sobre a sua figura distribuem-se em duas classes: a primeira
inclui as descrições do seu martírio, dentro do género clássico de acumulação
inverosímil de torturas e prodígios; a segunda abarca os relatos de inspiração
mitológica que proclamam a façanha da luta contra a serpente ou o dragão.
Não é muito difícil imaginar-se a origem das lendas do martírio: pelo facto de não
se terem conservado os registos autênticos do martírio de S. Jorge, sentiu-se a
necessidade de colmatar a lacuna com uns registos apócrifos, que têm tendência
para exagerar, com a finalidade de exaltar o mais possível a força do mártir e de
mostrar com toda a clareza a crueldade e a má fé dos perseguidores do
cristianismo. Trata-se de um recurso muito frequente nas biografias populares dos
mártires.
Por outro lado, é mais difícil adivinhar a origem da lenda épica e heróica que
apresenta S. Jorge como um soldado ou cavaleiro que, a pé ou a cavalo, empreende uma luta contra um ser monstruoso que mantinha atemorizada toda uma região, até
ao ponto de fazer pagar um tributo em vidas animais ou humanas. Ao chegar o
momento em que a vítima oferecida era a própria filha do rei, aparece o nosso
herói e, invocando o nome do Senhor, consegue vencer o inimigo e libertar a
princesa e, com ela, todos os habitantes do país. Seja como for, a lenda cativou
todos os cavaleiros que iam ao Oriente para as cruzadas e que se encarregaram de
a divulgar e fazê-la famosa em toda a Europa.
ORDENS DE CAVALARIA DE S. JORGE
Ordem constantiniana: fundada em 1190 por Isaac I de Bizâncio
Ordem de S. Jorge de Alfama: fundada em 1201 por Pedro I de Catalunha e
Aragão e fundada em 1399 com a Ordem de Montesa
Ordem da jarreteira: fundada em 1348 por Eduardo III de Inglaterra
Ordem de S. Jorge de Rosmonte: fundada em 1390 por Filipe de Miolans
Ordem de cavaleiros de S. Jorge: fundada em 1470 por Frederico III da
Áustria
Ordem pontifícia de S. Jorge: fundada em 1534 pelo Papa Paulo III
Ordem de S. Jorge: fundada em 1729 pelo príncipe da Baviera Carlos
Alberto
Ordem russa de S. Jorge: fundada em 1769 por Catarina II da Rússia
Ordem de S. Jorge de Hannover: fundada em 1839 por Ernesto Augusto de
Hannover
MARTÍRIO E CARIDADE
É evidente que as descrições populares do martírio de S. Jorge não gozam de
verosimilhança histórica alguma. Mas, como toda a ampliação lendária, revelam um
significado que tem que ver com dimensões profundas da fé e da vida cristãs. Não
se torna contraproducente ter em consideração esses relatos fantásticos se
tivermos em conta o que realmente são, isto é, não testemunhos fidedignos de
factos históricos, mas como símbolos descobridores de ideais e convicções que não
podem ser objecto de nenhuma crónica.
Leiamos alguns fragmentos da versão que um autor do século XIII – Santiago de la
Vorágine – ofereceu da paixão lendária de S. Jorge na sua célebre obra A lenda
dourada:
«Por aquele tempo, sendo imperadores Diocleciano e Maximiano, o governador
Daciano desencadeou uma horrorosa perseguição contra a Igreja, com tal ira que
em cerca de um mês foram martirizados dezassete mil cristãos; e não se
produziram mais vítimas porque muitos dos perseguidos, vencidos pelas torturas,
renegaram a Cristo e consentiram em oferecer sacrifícios aos ídolos.
Diz-se que S. Jorge, interiormente atormentado pelo espectáculo daquelas
matanças e pelas deserções que se produziam entre os fiéis, renunciou à sua
carreira política e militar, distribuiu os seus bens pelos pobres e, vestindo-se como
se vestiam naquela época os cristãos, se meteu ao caminho e começou a pregar às
multidões repetindo frases como estas: “Os deuses dos pagãos são verdadeiros
demónios. O único Deus autêntico é aquele que criou o céu e a terra”.
O governador, ao inteirar-se disto, chamou o pregador e perguntou-lhe:
Com que direito chamas demónios aos nossos deuses? Quem és tu? De onde és?
Em nome de quem dizes o que andas por aí a dizer?
O santo respondeu:
Chamo-me Jorge, sou da Capadócia (encontra-se na actual Turquia), pertenço a uma
família nobre. Fui militar; com a ajuda de Cristo conquistei as terras da Palestina;
mas renunciei ao senhorio que me foi reconhecido por elas, aos meus títulos e
cargos e ao meu ofício e a todos os bens que possuía para, sem o entrave de honras
e riquezas, servir directamente a Deus do céu.
O governador tratou de fazê-lo ver a conveniência de renunciar à sua fé, mas não o
conseguindo ordenou que lhe dessem os seguintes tormentos: atarem-no a um
poste, rasgarem-lhe a carne com ganchos de ferro, aplicarem-lhe archotes acesos
nas costas, queimarem-lhe as entranhas postas a descoberto e esfregarem com sal
todo o corpo em ferida.
Depois de o terem torturado tão atrozmente durante todo o dia, ao chegar a noite
o Senhor, rodeado de vivíssima claridade apareceu ao mártir, consolou-o com doces
palavras e deixou-o tão confortado que a Jorge, tudo quanto padeceu ao longo do
dia, lhe pareceu sem importância.
Vendo que, com ameaças e torturas não conseguia nada, Daciano mudou de táctica e
tentou obter resultados recorrendo ao procedimento da adulação e das promessas.
Jorge, meu filho – diz-lhe o governador, vês como são bons os nossos deuses para
contigo; blasfemas deles e não só não se aborrecem, como pacientemente suportam
os teus ataques e mostram-se dispostos a perdoar as tuas injúrias se te
converteres à nossa religião. Creio, amado filho, que deves fazer o que te
aconselho: abandona essas superstições cristãs e presta culto aos nossos ídolos;
não te arrependerás porque eles e eu te cumularemos de honras.
Jorge, sorrindo, respondeu-lhe:
Porque é que, em vez de me torturares desapiedadamente, não me disseste essas
coisas desde o início? Deverias ter começado por aqui. Assim está melhor. Aqui me
tens, disposto a fazer o que me propões.
Daciano não se deu conta da ironia que implicava tal resposta e, transbordando de
alegria, mandou publicar um pregão convocando o público para assistir aos
sacrifícios que Jorge, após a sua atitude anterior de obstinação, ofereceria em
honra dos ídolos. À hora combinada Jorge entrou no recinto, ajoelhou-se e pediu
interiormente ao Senhor que, pela honra que era devida ao seu santo nome e para
favorecer a conversão do povo, se dignasse destruir aquele templo e as imagens
dos ídolos, de forma a que não ficasse o menor vestígio. Mal tinha acabado a sua
oração desceu do céu uma rajada de fogo tão potente que num abrir e fechar de
olhos reduziu a cinzas o templo, as imagens e até os sacerdotes pagãos que
promoviam a idolatria.
Daciano disse então a Jorge: És o mais abominável dos homens. Como é possível que a tua malícia tenha chegado ao extremo de cometer um crime tão horrível?
Jorge respondeu-lhe: Senhor, não me julgue tão severamente. Vem comigo e verás como ofereço sacrifícios.
Não conseguirás enganar-me de novo – respondeu Daciano. Já sei o que pretendes. Queres que eu te acompanhe para que a terra me trague também como fez ao templo e às imagens dos meus deuses. Então, Jorge repreendeu-o da seguinte forma:
Diz-me miserável, diz-me! Como poderiam ajudar-te esses deuses que não puderam ajudar-se a si mesmos? A este diálogo assistia Alexandra, esposa de Daciano. Este, voltando-se para ela, exclamou: Oh, esposa minha! É tanta a raiva que sinto ao ver que este homem me venceu que creio que vou morrer de despeito.
Alexandra respondeu-lhe: Não me estranha nada, tirano cruel! Não te disse inúmeras vezes para deixares de perseguir os cristãos? Não te adverti insistentemente que estes homens contam com a protecção do seu Deus? Pois agora te digo mais, presta atenção às minhas palavras: quero tornar-me cristã. Daciano, estupefacto, exclamou: Que oiço? Também a ti te seduziram?
Naquele momento o governador mandou que pendurassem sua esposa pelos cabelos e a açoitassem sem piedade, até morrer em tormento. Enquanto sofria este suplício Alexandra, dirigindo-se a Jorge, disse-lhe: Oh Jorge, luz da verdade! Que vai ser de mim que vou morrer e não soubaptizada?
O santo respondeu-lhe: Minha filha! Não te preocupes com isso. O sangue que estás a derramar tem neste caso mais valor que o baptismo e equivale a uma coroa de glória.
Passado pouco tempo, a esposa de Daciano, sem deixar de orar ao Senhor enquanto pode, expirou.
Daciano, quando expirou sua esposa, condenou Jorge a ser arrastado pela cidade até ao local em que iria ser decapitado; no dia seguinte executou-se a sentença. O santo, antes de morrer, rogou ao Senhor que se dignasse conceder aquilo que fosse pedido a quantos pedissem algo por sua mediação, e mereceu ouvir uma voz que descia do alto: «Tem a certeza de que este teu pedido foi escutado no céu e será tido em conta». De seguida o verdugo cortou a cabeça do invicto mártir. A sua morte ocorreu no tempo dos imperadores Diocleciano e Maximiano, que iniciaram o seu governo por volta do ano 287 da era cristã. Como em tantos outros relatos populares de martírios, por trás das inexactidões históricas está oculta a intuição de verdades muito profundas. No caso do martírio de S. Jorge, aparece com muita clareza, por um lado a dimensão evangelizadora do seu testemunho e, por outro, o exemplo de caridade ardente que demonstra com a sua atitude.
O que move interiormente o corajoso Jorge a deixar a sua vida de soldado e a dedicar-se à vida de pregador é a força dinâmica e expansiva da sua fé cristã, que tem necessidade de comunicar aos outros as convicções próprias ainda que a franqueza do testemunho provoque a ira do perseguidor e o leve à morte.
A morte martirial converte-se então num sinal claramente evangelizador, capaz de suscitar naqueles que o presenciam (neste caso a esposa do governador) o movimento interior até à conversão e à fé.O martírio é, certamente, um testemunho de fé. Mas é, sobretudo, um testemunho de caridade. A biografia popular de S. Jorge compraz-se em destacar o feito da generosa distribuição dos bens aos pobres que o invicto mártir realizou antes de se dedicar à defesa pública da fé cristã; é uma expressão plástica que realça uma verdade que sempre fez parte do núcleo essencial da mensagem cristã: não se pode separar a fé e Deus e o amor prático e concreto aos irmãos.
A CRUZ VITORIOSA
Da lendária paixão de S. Jorge retiramos uma lição importante: o autêntico mártir cristão não é simplesmente aquele que morre nas mãos dos perseguidores da fé – ainda que seja com os piores tormentos – mas aquele que com a sua vida de caridade proclama a verdade do Evangelho. A morte cruel recebe todo o seu valor da autenticidade do amor que dá sentido à vida.
Que lição podemos extrair da narração mitológica, vinculada desde os tempos antigos à figura de S. Jorge, que o converte num cavaleiro intrépido e corajoso que mata o dragão e liberta a princesa?
Nesta lenda podemos ver um modo de apresentar – numa linguagem épica mais própria dos tempos medievais que dos nossos dias – outro aspecto importante do martírio cristão: o mártir, através precisamente do que aparentemente é uma derrota, consegue uma rotunda vitoria sobre as forças do mal.
Não se pode esquecer que o primeiro mártir foi o próprio Jesus, morto em consequência da orientação da sua vida, mas que na morte recebeu a vida em plenitude.
Todo o mártir cristão não faz outra coisa senão reproduzir essa dinâmica do mistério pascal de Jesus Cristo: a morte converte-se para ele num caminho de triunfo, a morte não é uma derrota mas uma condição da vitória.
A iconografia clássica sobre S. Jorge contém um detalhe significativo: no escudo do cavaleiro aparece sempre uma cruz vermelha sobre um fundo branco ou prateado. É a célebre «cruz de S. Jorge» usada profusamente na heráldica. Pois bem, esta mesma cruz é a que, tradicionalmente, figura em muitas representações de Cristo ressuscitado: saindo vitorioso do sepulcro, Cristo desfralda uma bandeira adornada com a cruz de cor vermelha.
A cruz, símbolo de derrota e de morte, converte-se no caso de Cristo e dos seus mártires, em sinal de vitória e de vida. A cruz é vitoriosa, a luta conduz ao triunfo, a morte converte-se em vida. É o que canta poeticamente o hino litúrgico que constitui a sequência da Páscoa: Lutaram a vida e a morte em singular batalha, e morto aquele que é a Vida, triunfante se levanta.
A relação estreita entre a morte dos mártires e a morte de Cristo foi objecto, desde os tempos mais antigos, de profundas reflexões por parte dos pensadores e pregadores cristãos, que insistiram no carácter pascal de uma e outra. No caso de S. Jorge, não faltou quem aproveitasse o facto da sua festa a 23 de Abril cair sempre dentro do tempo pascal, para fazer uma aproximação fecunda entre a morte pascal do mártir e a morte pascal de Cristo. Assim o faz com grande eloquência S. André de Creta – um bispo do século VIII – num sermão dedicado ao megalomártir S. Jorge: «Os sepulcros dos mártires são sempre resplandecentes e muito honoráveis. O que hoje celebramos é certamente muito mais venerável e glorioso que os outros.
Quando recordamos este mártir, com efeito não recordamos unicamente a imitação da paixão do Senhor, adornada com os combates atléticos e tornada mais formosa pela eclosão da primavera. Esta recordação enriquece-se também com a alegria das festas do Senhor que se sobrepõem a tudo.
A meio destas festas, como no meio de dois sóis que, com o seu próprio movimento, seguem a sua órbita, a festa de S. Jorge é como uma lua que recebe a luz de ambos os sóis e ilumina o mundo com raios parecidos aos de Cristo. Mais que ela, certamente, brilha e sobrepõe-se o esplendor da festa das festas, a festa maior de todas, festa celebrada em todo o mundo e com maior esplendor que as outras, que sai radiante como o sol e que depois vamos celebrando todos juntos: a festa da morte e da ressurreição do Salvador, de Cristo, verdadeiro Deus e Nosso Senhor, Jesus, o Filho de Deus, o primeiro dos mártires, que encarnou por nós, e para nossa salvação deu testemunho, e com a sua paixão nos concedeu a vitória sobre a morte. Unida estreitamente a esta festa, segue-se a ascensão de Jesus ao céu, levando a nossa própria natureza a sentar-se à direita do Pai.
Não podemos atribuir simplesmente a uma casualidade que a festa de S. Jorge se encontra entre essas duas festas. Mas temos de ver nisso uma manifestação do amor de Deus, uma maneira de fazer própria de Deus, que nos manifesta assim a sua grande predilecção por este mártir, que não partilhou com Ele unicamente os seus sofrimentos, mas também o dia da sua paixão. Assim se sobrepõe às festas de todos os outros mártires que celebramos ao longo do ano, sendo a única que tem lugar depois da ressurreição, a meio do esplendor da primavera.»
O brilho vitorioso da morte dos mártires – e em concreto da de S. Jorge – converte-se num motivo de alegria e de esperança para todos os cristãos. Todos – e não somente os que realmente derramam o seu sangue no martírio cruel – somos chamados a fazer das nossas vidas e, por conseguinte, da nossa morte, um testemunho (isto é, um martírio) de fé, de esperança e amor. Todos somos chamados a dar uma dimensão pascal à nossa vida e à nossa morte. É a grande lição que nos oferecem os mártires e, de um modo especial, S. Jorge precisamente através dos relatos lendários que acompanham a sua figura.
Na Catalunha – onde se publica este livro – a festa do S. Jorge coincide com uma celebração cívica de primeira categoria: o dia do livro e da rosa. Vale a pena aproveitar tal coincidência para realçar alguns aspectos essenciais da existência cristã, sobretudo na luta que há que empreender contra todas as forças do mal (simbolizadas no dragão) para chegar à vitória do bem (significado na rosa – triunfo da primavera e do amor, e no livro – instrumento de civilização e de cultura). São muitos os países, cidades, grupos e instituições que invocam S. Jorge como seu patrono. Significa isto que a figura deste mártir exerce uma atracção que os fascina. Oxalá que este fascínio não se limite a uma evocação mais ou menos romântica, mas que conduza à imitação daquelas virtudes que são inerentes ao testemunho cristão.
Países que têm S. Jorge como patrono:
- Grécia
- Inglaterra
- Polónia
- Portugal
- Rússia
- Sérvia
Nome Jorge em várias línguas: - Português: Jorge
- Francês: Georges
- Italiano: Giorgio
- Inglês: George
- Alemão: Georg, Jürgen
- Polaco: Jerzy
- Russo: Igor, Yuri
- Grego: Gueorguios
«Quando um povo adopta como patrono um herói, é porque quer reviver constantemente a sua heroicidade. Adoptar o patrono significa colocar diante dos olhos uma imagem heróica do que queremos que seja a nossa vida, para a termos sempre presente, para não desfalecermos, por seguir o seu exemplo, adequando-a ao que o tempo pede.
Nisto de escolher um patrono há uma espécie de instinto da acção do povo, que desde o fundo luminoso da sua inconsciência adivinha a classe de energia que tem de imitar para realizar a sua missão enobrecedora, e tem um pressentimento da sua aptidão para realizar constantemente aquela imitação.
Não basta alegrar-se com a festa e a celebração: tem que se reviver todo o sentido. Esta luz sobrenatural que notamos nesse dia; o sorriso que dirigimos ao irmão; a fragrância que deixa no ar, ao passar, o ramo de flores que trazemos, são os vestígios que deixou em tempos uma luta heróica e santa.
Se queremos que o rasto perdure para sempre, temos de renovar em cada momento a luta e a vitória. Que haja uma pureza constante nas nossas vestes, um resplendor nas nossas armas, um alento de amor no nosso peito e sempre um sorriso de fé serena na luta mais difícil.» (Joan Maragall)
PARA REZAR - É justo e necessário dar-te graças sempre e em toda a parte, Senhor, Pai santo, porque o sangue do glorioso mártir S. Jorge, derramado como o de Cristo, para professar o Teu nome, manifesta as maravilhas do Teu poder; pois no seu martírio, Senhor, encontrou força na debilidade, fazendo dela teu próprio testemunho; por Cristo, Nosso Senhor.
- S. Jorge, queremos recordar-te como te recorda a antiga tradição.
- Abandonaste os êxitos militares e distribuíste os teus bens entre os pobres.
- Abandonastes os deuses poderosos do Império para seguir o Messias crucificado.
- Abandonaste a segurança da tua linhagem para te unires à menosprezada comunidade dos cristãos.
- Deste a vida por amor ao Evangelho.
- S. Jorge, mártir, companheiro fiel de Jesus:
- Gostamos de te recordar na luz da primavera e da Páscoa;
- Gostamos de te recordar valente no combate contra toda a dor e toda a escravidão.
- S. Jorge, mártir, companheiro fiel de Jesus:
- Ajuda-nos a enamorarmo-nos do Evangelho,
- Ajuda-nos a viver essa fé que tu tão intensamente viveste,
- Ajuda-nos a tornar possível que todo o mundo possa sentir a felicidade da Primavera
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